quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Reflexão de Martinho Lutero (1483-1546)


A fé não somente faz com que a alma se torne livre, cheia de graça e bem-aventurada, mas também une a alma com Cristo, como uma noiva com seu noivo. Desse casamento resulta, como diz Paulo, que Cristo e a alma forme um só corpo tornando bens comuns a ambos a felicidade e o infortúnio e tudo o mais; que, o que Cristo tem, pertence à alma crente, e o que a alma tem, pertencerá a Cristo. Desse modo, Cristo possui todos os bens e toda a bem-aventurança que pertencerão à alma. Assim, a alma traz consigo todos os vícios e pecados que pertencerão a Cristo. Instaura-se agora uma troca feliz e uma controvérsia. Uma vez que Cristo é Deus e um homem que jamais pecou, e sua justiça é invencível, eterna e onipotente, ao apropriar-se do pecado da alma crente por meio da aliança do casamento, isto é, a fé, ele age como se ele mesmo o tivesse cometido; por conseguinte, os pecados são tragados por ele e nele submergem. Já que a sua justiça invencível é mais forte que todos os pecados; portanto, a alma fica livre e liberta de todos os seus pecados, simplesmente mediante o seu dote, isto é, em virtude da fé, e munida de justiça eterna de Cristo, seu noivo. Não seria este, então, um lar feliz já que Cristo, o noivo rico, nobre e justo, case-se com uma pobre prostituta, desprezada e má, desembaraçando-a assim de todo o mal e adornando-a com todos os bens? Desse modo, não é mais possível que a alma seja condenada por seus pecados, pois estes também residem em Cristo e foram tragados por ele. Assim, ela possui em seu noivo uma justiça tão rica que será capaz de resistir uma vez mais contra todos os pecados, mesmo que eles estivessem nela. Sobre isso, diz Paulo em I Cor 15.57: "Graças a Deus, que por intermédio de Jesus Cristo nos dá a vitória no qual a morte foi tragada junto com o pecado"