terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pensando sobre rampas escorregadias


A maioria de nós sabe o que significa encontrar-se num telhado muito inclinado ou numa outra inclinação de barro, gelo ou pedras soltas muito íngremes.

Então, quando alguém usa o argumento do “solo escorregadio” para prevenir contra erros de conduta numa direção perigosa, fazemos mais do que apenas compreender a advertência. Sentimos a emoção de uma decisão que poderia repentinamente nos colocar em rota perigosa.

Muitos de nós também sabemos que a Bíblia descreve os caminhos escorregadios para os quais nos direcionamos quando viramos nossas costas a Deus. O profeta Jeremias fala daqueles que deliberadamente ignoram o perigo real, ao escrever: “Portanto, o caminho deles será como lugares escorregadios na escuridão; serão empurrados e cairão nele; porque trarei sobre eles calamidade, o ano mesmo em que os castigarei, diz o SENHOR.” (Jeremias 23:12)

Então, sem sombra de dúvidas, precisamos reconhecer que aqueles que voluntariamente avançam sobre as barreiras e cercas das advertências morais e espirituais podem colocar-se em perigo real.

Há ainda, outro lado para os avisos de que o “solo está escorregadio.” Tais argumentos às vezes são alarmes falsos. Podem ser uma forma de gritar, “Lobo!” quando não há lobos.

“No mundo da lógica e do debate, a discussão sobre o piso escorregadio é considerada uma falácia, pois com frequência tem sido usada como uma tática escassa para exagerar a presença do perigo. Em tais circunstâncias, o aviso não se baseia no bom julgamento ou na evidência. Em vez disso, antecipadamente se pergunta, “Se não dissermos não para isso, onde delimitaremos a linha?”

Reconhecemos, há um tempo para esse cuidado. Se não há boas razões para fazer outra coisa, a não ser manter-se em segurança, para que procurar problemas quando já temos o suficiente?

Mas e os momentos em que a preocupação pelos outros nos leva a arriscar nosso senso critico? Para tais momentos, o Filho de Deus nos dá uma forma diferente para pensar sobre os avisos do solo escorregadio.

Certa vez, Jesus permitiu que Seus discípulos, famintos, colhessem grãos no sábado para saciar sua fome (Marcos 2:23-28). Ao ser criticado por lideres religiosos, Jesus lhes disse que o sábado foi feito para o homen, e não o homem para o sábado (2:27). Com poucas palavras Jesus relembrou aos Seus críticos que a letra da lei deve ser entendida sob a luz da sua intenção.

Em outra ocasião, Jesus enfatizou mais uma vez o espírito da lei usando deliberadamente o sétimo dia da semana para curar um homem de uma doença séria e debilitante. Quando criticado por uma possível infração da lei do “não trabalho”, Jesus perguntou aos Seus críticos quais deles hesitariam em ajudar um animal ferido que caísse numa vala no sábado (Lucas 14:5). Em nossos dias, a pergunta poderia ser, “Quais de vocês, depois de ligar para o corpo de bombeiros para comunicar incêndio em uma casa, esperaria que o caminhão de bombeiros dirigisse dentro do limite de velocidade?”

Usando o exemplo que uma criança poderia entender, Jesus lembrou aos mestres de Israel que eles não tinham problema para entender a essência da lei quando se tratava de seus próprios interesses.

Esse não foi o único momento que Jesus precisou explicar o óbvio aos mestres de Israel. Em outro momento, um grupo de líderes religiosos arrastou uma mulher para Jesus, dizendo tê-la pego em ato de adultério (João 8:4). E lembraram a Jesus que Moisés ordenara que tal pessoa fosse apedrejada e queriam saber o que ele achava que deveria acontecer com ela.

O autor do evangelho nos diz que os lideres religiosos fizeram isso na tentativa de fazer Jesus dizer alguma coisa que eles pudessem usar contra Ele. Queriam ver se Jesus ousaria mostrar misericórdia àquela mulher. Se sim, onde ele estabeleceria o limite?

Em resposta, Jesus se abaixou e escreveu alguma coisa na areia. João não nos diz o que Jesus escreveu na verdade. Poderia ter sido “Onde está o homem?” Não importa o que Ele tenha escrito, pelo que Jesus disse em seguida, Ele estabeleceu um limite na areia que eles não esperavam. Jesus encorajou aquele que nunca tinha pecado a atirar a primeira pedra (João 8:6-7). Em seguida, Ele se abaixou e escreveu novamente no chão enquanto, um a um dos acusadores da mulher saíram em silêncio.

Mas e a lei? Como Jesus pôde ignorar Moisés e não conduzir-se de um solo chão escorregadio à anarquia moral?

Talvez a resposta esteja no primeiro capítulo do mesmo evangelho. Nesse, João nos diz que a lei veio por Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo (João1:17)

Antes de Seu tempo na terra terminar, Jesus trouxe a Sua resposta para aquele “piso escorregadio”. Com base em Sua morte por nós, Ele poderia levar Seus seguidores a se motivarem mais por sua preocupação pelos outros, do que pelo medo da crítica. Em vês da pergunta, “Se começarmos, onde desenharemos a linha?” perguntamos, “O que a verdade e o amor pedem de nós nesta situação?”

Jesus nunca transgrediu a lei do amor, apesar de Ele seguidamente resistir ao mau uso do pensamento de solos escorregadios. Ao contrário, Ele comeu e bebeu com pecadores. Jesus fez a samaritana tornar-se a heroína de uma de Suas histórias. E, no sábado, Ele curou o doente.

Pai celestial, por favor, dá-nos o discernimento que precisamos para ver a diferença entre o perigo real e os falsos alarmes. Livra-nos dos medos que nos impedem de amar corajosamente aqueles por quem o Seu Filho morreu