Como muitos de nós consideramos que a prática tem implicações para nossa sanidade ou espiritualidade, pode valer a pena pensarmos juntos a respeito de uma questão que poderia afetar a todos nós, poderosamente. Deveríamos falar a respeito do que pensamos que Deus disse a nós da mesma forma que citamos a Bíblia?
Na questão da fé, muitos de nós acreditamos que o Criador, que ordenou a existência dos mundos [“Disse Deus: Haja luz; e houve luz” Gênesis 1:3], nos toca profundamente através de Sua criação, através de nossa consciência, de Suas Escrituras e também de Seu Espírito.
Mas se o nosso Deus pode falar claro o suficiente para que o “ouçamos”, será que isto significa que todos os meios que Ele utiliza para falar conosco merecem ser igualmente citados? Por exemplo, o que devemos pensar quando ouvimos alguém dizer algo do tipo: “Na noite passada, enquanto eu observava as estrelas, o Senhor me perguntou: ‘Você não acha que sou suficiente para resolver os problemas com os quais você está lutando?’” Ou quando ouvimos pessoas dizerem: “Deus está me chamando para…” ou “o Senhor me assegurou que…” e também “O Senhor está me guiando para…” ou ainda “noutro dia, enquanto eu lia a Bíblia, o Senhor me deu uma promessa…”
Aqui está a verdadeira questão. E se ao nos referirmos a Deus dessas maneiras, colocarmos palavras em Sua boca que não refletem o que Ele nos diria em nossas atuais circunstâncias?
Nos dias do Antigo Testamento atribuir a Deus palavras que Ele não tinha dito era um crime punido com a morte. Em nome de Deus, Moisés declarou: “Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto” (Deuteronômio 18:20). Embora este texto seja muito antigo, demonstra a preocupação de Deus ao ser citado erroneamente.
Porém, também é verdade que a pergunta: “É assim que Deus disse?” [Gênesis 3:1] aparece na Bíblia pela primeira vez, como a tática usada pelo diabo para plantar uma semente de dúvida na mente de Eva. Alguns, portanto, têm medo de fazer a mesma pergunta a si mesmos ou a outros, pois temem plantar a sua própria semente de dúvida.
Essa poderia ser uma preocupação legítima — a menos que a nossa intenção seja diferente da intenção do diabo. E se o nosso propósito não é confundir, mas esclarecer o que Deus realmente disse? Como podemos ter certeza de que estamos sendo tão cuidadosos ao afirmar aquilo que cremos como sendo uma palavra de Deus, da mesma maneira que estamos preparados para ouvi-lo falar?
Mencionando o Deus da Bíblia. Imagine, por exemplo, se estivermos nos questionando se devemos nos endividar ao fazer uma compra de grande valor. Enquanto refletimos sobre a decisão, nossa leitura devocional para o dia é: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Filipenses 4:19). Será que ouvimos Deus dizendo através destas palavras: Façam a compra e confiem em mim para dar condições de pagá-la? Ou será que ouvimos o Senhor dizendo através das palavras de Paulo: Confie em mim para suprir as suas necessidades sem assumir esta dívida?
Com certeza, o conteúdo bíblico nos garante a capacidade de Deus em cuidar de nós. Contudo, na tentativa de alcançar conclusões a partir das palavras do livro de Filipenses 4:19, é provável que ambas as interpretações acima representam o uso incorreto da Bíblia. Dependendo da forma como o texto é interpretado, Paulo poderia estar expressando o seu desejo de que Deus atenderia às necessidades daqueles que lhe deram sustento. Ou o apóstolo talvez tenha indicado a sua confiança de que Deus cuidaria dos outros assim como eles tinham cuidado de Paulo. Qualquer destes significados poderia nos ajudar a confiar na capacidade divina de suprir nossas necessidades — à medida que ofertarmos para suprir as necessidades daqueles que estão servindo ao Senhor. Porém, nenhum dos significados nos dá o direito de afirmar que isto seja uma palavra de Deus a nós, sobre a decisão de contrair um débito. Para honrar, verdadeiramente, a Palavra de Deus escrita, precisamos lembrar que “o que Deus disse” está restrito ao sentido original e propósito do texto que Ele inspirou.
Referindo-se a Deus, o qual fala aos nossos corações. Aos nos referirmos àquilo que sentimos que Deus falou ao nosso espírito, um pouco de cautela pode fazer muita diferença. Em vez de afirmar: “Deus falou ao meu coração,” tudo que precisamos dizer é algo como: “Creio que Deus estava me dizendo” ou “tive uma forte impressão sobre o significado do que a Bíblia relatou ao citar Deus dizendo: ‘De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei’” (Hebreus 13:5).
Dizer com sinceridade aquilo que acreditamos ter ouvido de Deus deixará claro que estamos falando a respeito do nosso ponto de vista sobre a orientação de Deus. Concentrar-se em nosso papel na tentativa de compreender como Deus está trabalhando em nossas vidas é muito mais seguro do que assumir o risco de pôr palavras, que Ele jamais diria, em Sua boca.
Tal precaução pode nos deixar mais inseguros do que gostaríamos. Contudo, quem tem mais razão em ser cauteloso naquilo que afirmamos ser a voz de Deus, do que aqueles entre nós com uma visão mais profunda da Palavra de Deus?
Pai celestial, Tuas palavras são preciosas demais para serem confundidas com as nossas. Perdoa-nos, por favor, por confundirmos sem querer os nossos desejos com as Tuas promessas. Não queremos duvidar de Ti — ou citar-te de maneira incorreta — por quem és e também por nós.